Ponte Preta Impedida: Dívidas Milionárias Travam Reforços e Ameaçam o Futuro na Série C

O cenário para a Ponte Preta, apesar do bom desempenho em campo, é de considerável apreensão. O clube está atualmente impedido de efetivar o registro de novos atletas junto à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), uma sanção que lança uma sombra sobre o planejamento para a sequência da temporada e a busca pelo acesso.

A raiz do problema reside na inadimplência de um acordo previamente estabelecido com a Câmara Nacional de Resoluções de Disputas (CNRD). Este acordo visava a quitação de um passivo estimado em cerca de 18 milhões de reais, envolvendo dívidas com jogadores, membros de comissão técnica, intermediários e outras agremiações, a ser liquidado ao longo de uma década.

A decisão que impõe o "transfer ban" foi formalizada na última sexta-feira. Curiosamente, apenas um dia antes, na quinta-feira, a documentação do lateral-esquerdo Kevyn, proveniente do Paysandu e o único reforço da Alvinegra nesta janela de transferências que se estende até 2 de setembro, havia sido regularizada. O timing da punição, portanto, é particularmente desfavorável.

O Impedimento da Macaca: Por Que Nenhum Reforço Chega?

Conforme comunicado emitido pela CNRD, a diretoria pontepretana falhou no cumprimento de duas obrigações financeiras cruciais: uma parcela de caráter mensal, com vencimento em 20 de junho, e outra de periodicidade semestral, que deveria ter sido paga em 30 de junho.

Em declaração à Rádio Bandeirantes de Campinas, o presidente Marco Antonio Eberlin reconheceu a situação, embora com um tom de otimismo em relação à resolução:

- Não tenho o que esconder. A Ponte tem bloqueios judiciais, mas não conseguiram arrastar todo nosso dinheiro. Nos próximos dias estaremos acertando o transfer ban.

O dirigente também abordou a delicada questão dos vencimentos de atletas e comissão técnica, revelando um panorama de atrasos que se soma ao bloqueio de registros:

- Temos que pagar até o fim do mês o elenco (o salário de junho). Temos três jogadores que não tiveram a totalidade dos salários pagos. A comissão técnica está atrasado (o salário). Mas tudo vem sendo conversado.

Tradicionalmente, a Ponte Preta adota um modelo de pagamento que prevê a quitação dos salários do mês trabalhado até o encerramento do mês subsequente, não se atendo rigorosamente à convenção do quinto dia útil. Neste contexto, os jogadores ainda aguardam os vencimentos referentes a junho, enquanto a comissão técnica já acumula atrasos desde maio. A mesma condição se aplica a funcionários do departamento de futebol profissional e das categorias de base, embora a situação dos colaboradores do estádio e das áreas administrativas esteja em dia.

Foto: (Icon Sport)

Salários Atrasados: Um Cenário de Incertezas Financeiras

O texto da CNRD especifica que, uma vez comprovada a total regularização dos pagamentos pendentes, a entidade procederá com a análise da possibilidade de suspensão da sanção. Os valores exatos devidos pelo clube nas duas parcelas em atraso não foram divulgados.

O acordo da Ponte Preta com a Câmara Nacional de Resoluções de Disputas da CBF, homologado em setembro de 2024, previa o pagamento de aproximadamente R$ 18 milhões em dívidas. Este montante seria parcelado em até 10 anos, com prestações mensais iniciais de R$ 150 mil. Esse valor mensal, sujeito a reajustes ao longo do processo, é distribuído entre os cerca de 90 credores que movem ações contra a Ponte desde 2018.

O Acordo CNRD: Detalhes de Uma Dívida Milionária

É fundamental ressaltar que, em caso de inadimplência "reiterada" ? ou seja, frequente ?, a Ponte Preta corre o risco de sofrer uma nova aplicação do "transfer ban" por um período de até seis meses, independentemente da posterior regularização dos pagamentos. Esta cláusula denota a gravidade da situação e a necessidade de um compromisso financeiro contínuo e rigoroso.

Paralelamente a esses desafios administrativos e financeiros, dentro das quatro linhas, a Macaca mantém uma campanha robusta na Série C. Atualmente, ocupa a vice-liderança da competição, com 26 pontos, e terá a oportunidade de reassumir a primeira colocação neste domingo, em um confronto direto contra o líder Caxias (27 pontos), no Rio Grande do Sul, às 16h30. O desempenho em campo, por enquanto, contrasta com as turbulências fora dele, exigindo da diretoria uma gestão ainda mais transparente e eficaz para não comprometer a trajetória esportiva.